Ainda há princesas e príncipes, e cor de rosa e azul
Tenho tentado manter-me afastado desta questão dos príncipes e das princesas porque, sinceramente, continuo a acreditar que a luta pela igualdade é muito mais do que um movimento feminista na forma como se apresenta: elitista e cheio de estereótipos que servem apenas para criticar outros estereótipos.
Não há dúvidas que existem desigualdades entre homens e mulheres e já escrevi por diversas vezes que não, não é justo. Mas também não é justo a existência de quotas. E com esta frase, já se levantaram as forquilhas, prontas para me deitar à fogueira.
Enaltecem-te as bandeiras porque há um governo constituído maioritariamente por mulheres. Mas, queremos lutar por igualdade ou pela supremacia feminina em relação ao masculino? Não esquecer que a luta é, precisamente, ajustar os ponteiros.
Uma das figuras femininas mais acarinhadas por todo o mundo, com uma obra notável, era uma princesa
Chamo princesa à minha filha (terei de ser castigado), com muito orgulho, e não é por isso que a vejo crescer como um ser inferior, em desigualdade com os rapazes. Aqueles e aquelas que levantaram a voz para, mais uma vez, apontarem armas na direção errada de uma luta justa pela igualdade, apenas contribuem para que essa luta seja descaracterizada, menosprezada, e tratada como um tema pouco ou nada sério.
Quando se apresentam estudos a dizer que por brincarem com bonecas as mulheres serão mais pobres na velhice, só podem estar a brincar com coisas sérias. Por mais elaborado que o estudo esteja, é deveras enganador.
Eu lembro-me de também brincar com bonecas, com as minhas irmãs. Claro, sempre gostei mais de jogar à bola, elas gostavam menos, mas não era porque os meus pais as proibissem. Há uma diferença entre homens e mulheres que nunca será possível alterar. Está no genoma humano.
Mas, o que sei eu sobre o tema? Afinal, nasci homem e homem continuo a ser. Será que essas mesmas vozes aceitam que um rapaz, que queira mudar de sexo, tenha desejo e goste que lhe chamem princesa? Ou irão levantar a voz com os mesmos argumentos agora enaltecidos?
Quem me conhece sabe que trato as mulheres da mesma forma que trato um homem, com respeito. Mas, sejamos honestos, será que posso contar a mesma piada à frente de uma mulher sem ser acusado de assédio?
Sou, desde que me lembro, um brincalhão. Tenho sempre um segundo sentido na ponta da língua para qualquer frase que se ponha a jeito. E, entre amigos e amigas, sinto-me mais livre. Mas, mesmo aí, há uma nítida sensação de maior incómodo nas mulheres. Graças aos seres divinos, as amigas mais próximas já me conhecem e perdoam a ousadia. Mas noutras situações, já vi homens serem acusados de assédio por menos.
Atenção, sou totalmente contra agressões sexuais, sejam elas de que tipo forem mas os flirts fazem parte do açúcar do nosso dia-a-dia.
Afinal, quem define estas coisas? Quem tem o direito de se intitular de polícia do feminismo ou machismo? Ainda por cima, para usar apenas quando dá jeito. Como tenho escrito, por diversas vezes, tenho a sorte de ter ao meu lado uma mulher que vale, como pessoa e profissional, por dois ou três homens. E sei que, se não fosse mulher, talvez tivesse outras oportunidades. E é aqui que todos devemos focar as atenções. Tornar esta "luta" numa espécie de afirmação que os homens são iguais às mulheres, simplesmente, não faz sentido. Nem os homens (ou mulheres) são iguais entre si...
Afinal, uma das figuras femininas mais acarinhadas por todo o mundo, com uma obra notável, era uma princesa. Ou será que se devia tirar os méritos a Diana por tudo o que fez só por causa do título?
Sim, vou continuar a chamar princesa à minha filha e rainha à minha mulher. São elas que regem o meu mundo, não um grupo de desconhecidos que pretendem moralizar à sua maneira, muitas vezes com tentativas de silenciar o direito de liberdade de expressão.
Serão as mulheres extremistas capazes de encontrar o meio termo para levar esta luta de forma séria? Ou vamos continuar a assistir a uma espécie de perseguição idêntica ao que se passou na Idade Média, mas adaptada aos tempos modernos?
Recordo, e partilho com quem desconhece, que quando fui trabalhar com a organização do Rock in Rio, além de outras expressões e hábitos culturais dos nossos irmãos brasileiros, fui muitas vezes confrontado com a expressão: "Fala aí, meu Rei!"
O que quer isto dizer? Foi a primeira impressão. Até perceber que é algo relativamente comum entre a comunidade brasileira. Será que devo sentir-me ofendido ou elogiado pela forma carinhosa como fui recebido no seio de uma família alargada?
Acabar com o feminino não é o caminho. Querem uma luta a sério pelo direito a igualdade de direitos? Contem comigo para estar na linha da frente, é o mínimo que exijo para a minha filha. Mas ela é, e irá ser sempre, a minha princesa. E nem me passa pela cabeça pedir desculpa por isso!