O marido deve ajudar a mulher grávida a passar creme gordo?
Nas minhas novas funções escrevi um artigo sobre prevenção de estrias na gravidez. Sobre a necessidade de utilização diária de creme gordo. Como escrever sobre isso, certo? Normalmente são mulheres a escrever sobre o tema. E chamam a si toda a sabedoria. É coisa de mulheres.
Sem dúvida que a experiência conta, e muito. Para escrever sobre passar creme gordo numa barriga grávida, nada melhor do que abordar o tema baseado num storytelling, numa história pessoal, algo que diga respeito à vida real. Uma transmissão de momentos vividos. Contei a minha história.
Tratando-se de gravidez, principalmente se ainda não passou por isso, fique a saber, o homem fica de fora. Surpresa. Tudo o que se lê sobre a gravidez nas revistas "da especialidade" anda à volta da mulher, da explosão de hormonas, da necessidade de maior atenção, apelos aos futuros pais para tratarem a rainha de forma ainda mais cuidada. Por norma, sou totalmente disponível para a minha mulher e nesta fase, durante as 42 semanas de gravidez (sim, 42), fiz tudo para minimizar o desconforto que ela pudesse sentir, para participar, de alguma forma, neste período em que o homem se "limita a ver de fora".
Como por natureza sou um romântico, apaixonado, no amor e no trabalho, todos os dias acedi em ser eu a passar o creme gordo na barriga, coxas, seios. Aproveitámos, a dois, um momento por norma chato, cansativo. Tornamos aqueles dois momentos diários em momentos íntimos (a dois). Por vezes, com final mais feliz. Mas sempre mais voltado para o amor do que para sexo!
Não sei se foi isso que impediu o aprecimentos das estrias, mas gosto de pensar que o meu contributo foi importante.
Por isso, para contar a história do creme gordo, que é um produto difícil de espalhar (como o nome indica é gorduroso, e cremes são algo que incomoda os homens), peguei na minha experiência de pai, de marido. O meu espanto foram as críticas femininias. Mulheres, algumas mães, mais do que uma vez, que consideraram uma abordagem errada por isso não corresponder à realidade. "Isso é um ritual exclusivo da mulher".
Sei que não sou exemplar único, conheço outros casos de homens que tiram prazer nesta ajuda às companheiras. Mas espanta-me esta recusa generalizada da classe feminina. Curiosamente, foram as mulheres sem filhos, talvez mais românticas, que ao lerem o artigo se reviram na abordagem.
Recuso aceitar que estou errado. Recuso sequer aceitar que esta é uma versão minoritária do tema. Os homens, devem mimar as mulheres, principalmente nesta altura da gravidez. O meu argumento é rebatido com afirmações como: "não estás a perceber, eu é que não quero que ele passe creme".
Deixo ao critério de quem ler, comentar e opinar sobre o tema. Sempre que se fala da gravidez, fala-se da dificuldade em fazer o homem participar, mas não serão elas por vezes a afastar o homem destes momentos?
Para mim, dar esta atenção extra (já agora, a minha mulher agradeceu a ajuda e o mimo destes momentos de passagem de creme) foi uma forma de estar mais presente no período de gravidez. Houve dias em que foi mais stressante, houve dias em que foi impossível passar o creme. Não foi uma obrigação nem um dever. Tornámos uma necessidade do cuidado da pele (que pelas dificuldades por vezes as mulheres deixam de fazer) num compromisso diário.
Não sei se foi isso que impediu o aprecimentos das estrias, mas gosto de pensar que o meu contributo foi importante. E aconselho a experimentarem. Deixem de se queixar que os maridos são ausentes e aproveitem este momento. Vá, façam um esforço e retirem a passagem de creme gordo da lista de "momentos intímos", exclusivos da mulher.
Para os homens, mesmo para aqueles que dizem logo, "isso não é para mim", lembrem-se do dia em que, na conversa com os amigos, fizeram aquele reparo sobre a colega da saia curta: "passava-lhe creme até com a língua"! E à mulher, não?