Pai, como é que eu arranjo um homem?
Desde que fui pai, há três anos e meio, que estou preparado para, lá aos 14 anos, ter de lidar com as questões amorosas da filha. Se calhar antes, mas nunca pensei que estas perguntas surgissem aos três anos de idade. O título pode estragar a surpresa, mas há mais!
Ao longo dos últimos meses, tem sido fantástica a evolução ao nível da fala, da conversação. Inventa histórias, ouve as que lhe lemos com muita atenção e depois, pega nos livros e ela própria vai folheando e contando, como se estivesse a ler. Pelo meio, algumas variações curiosas.
De vez em quando, respostas e reações que nos deixam espantados. Uma das mais recentes já a partilhei mas aqui fica de novo. Pede-me para encher balões, dauqueles saquinhos comprados no supermercado feitos de material bastante fraco. Mas, no meio, um que parece couro e que quase me rebenta os tímpanos a fazer força para o tentar encher.
Reação dela perante o meu esforço inglório: - Então pai, és um homem ou quê?
Começam cedo a "picar" a nossa masculinidade, a desafiar. E não é que tenha alguém a dar-lhe conselhos nessa matéria. Esta é também uma prova da existência de diferenças entre masculino e feminino. Diferenças saudáveis que nascem connosco. Apesar de lhe chamar princesa, não a obrigo a brincar com bonecas nem impeço que jogue à bola. Aliás, o número de bolas que tem em casa é prova disso mesmo. Não se trata de machismo, a afirmação que faço mas antes realçar que esta "guerra dos sexos" existe e já nasce connosco.
Foi neste momento que ri, porque a pergunta tem piada mas também porque não fazia ideia do que responder! Encolheu-se, a sorrir, envergonhada.
Na sua inocência, lá surgem as perguntas óbvias:
- As meninas têm pilinha?
- Não, quem tem são os meninos. As meninas têm pipi!
- E porque não posso fazer chichi em pé como os meninos?
- Porque não tens uma pilinha e depois ficas toda suja!
- Mas porque é que não tenho uma pilinha?
- Porque és uma menina!
Bem, por vezes tenho de dedicar mais tempo à conversa para tentar explicar. Não tem sido fácil, mas é fantástico. E aterrador, ao mesmo tempo. Mas faz parte do processo. E há mesmo momentos de quase pânico:
-Pai...
Grita ela da casa de banho, porque já faz questão de ir sozinha.
- Vou fazer chichi de pé...
Lá vou eu a correr, desesperado a tentar evitar o óbvio.
- Não, filha. Vais ficar toda molhada...
Chego lá e está a rir, a gozar com o meu desespero!
E, ontem, fui apanhado de surpresa com a conversa. A prima (já maior de idade) está grávida e ela já contactou com outras amigas nossas nesse estado. E por diversas vezes ouviu dizer que têm um bebé na barriga. Por isso, obviamente, deveria estar à espera, mas não estava!
- Oh pai, eu vou ter um bebé na barriga?
- O quê?
- Vou ter um bebé na barriga?
- Se quiseres, um dia, quando fores crescida!
- Mas eu sou crescida, já não sou um bebé...
Claro, onde tinha eu a cabeça...
- Sim, filha, mas quando fores crescida, assim como a mamã!
- Oh pai, como é que eu arranjo um homem?
Foi neste momento que ri, porque a pergunta tem piada mas também porque não fazia ideia do que responder! Encolheu-se, a sorrir, envergonhada. Não a podia deixar sem resposta, a pensar que tinha perguntado algo de errado.
- Quando fores adulta, vais perceber. Vais encontrar alguém que te respeite, goste de ti e te faça rir.
- Tu respeitas-me?
- Oh filha, eu acho que sim... E adoro-te muito. Mas é diferente... fiz uma pausa. Se calhar estava a ir longe demais na explicação.
Por sorte, ou porque percebeu o meu embaraço, foi ela que mudou de tema, e deixou-me com mais tempo para preparar as respostas. Mas não sei se consigo e até tenho medo das perguntas que aí vêm a seguir!
Como diz a educadora entre gargalhadas: - Está a crescer!
Pois está, e depressa!