Pestana Ilha Dourada, 4 estrelas sem brilho
Foto retirada do site do hotel
Em período de férias existe sempre um trabalho prévio de pesquisa por hotéis, locais, praias, piscinas, etc. Em plena Era da Internet, as pesquisas no conselheiro Google são "indispensáveis" e, apesar de muitas vezes já não se dar grande relevância, lêm-se as críticas dos supostos hóspedes. Mas nada melhor do que a opinião vivida de alguém que se conhece.
Neste caso, e como as férias até foram marcadas com poucos dias de antecedência, optei por uma agência que recomendou um pacote para o Porto Santo, com o perador Sonhando. Um destino que procurava há já alguns anos mas que ia sendo adiado pelo custo dos pacotes. E, desta vez, apesar de não ser das viagens mais em conta, havia uma opção mais baixa do que os tradicionais Tudo Incluído. Um Pestana, de 4 estrelas com meia pensão, pelo valor apresentado (em vôo charter operado pela TAP) apesar de não ser barato, era razoável.
Um pequeno atraso na partida de Lisboa (o vôo do Porto atrasou cinco horas) mas tudo correu como esperado. O Hotel, inaugurado em 2016 com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem umas instalações aceitáveis e o pessoal bastante simpático e prestável.
As surpresas começaram ao jantar. Incluído na meia pensão, um jantar buffet. Nada mais enganador e, para quem ainda vai viajar para este destino, convém ir com a consciência que neste departamento vai encontrar não um buffet mas um cantinho para os mais pequenos quase ao nível de um hotel de 3 estrelas.
Além da dimensão reduzida, a qualidade da confeção não acompanha as quatro estrelas e a variedade (ou falta dela) faz com que este buffet fique ao nível de uma pensão. E vamos diretos ao menu.
Todos os dias o acompanhamento das refeições era massa. Esparguete, macarrão, fitas... enfim, durante uma semana, conseguiram variar o tipo de massa. E, como alternativa, arroz. Batata frita nuns dias, croquetes de batata (dos congelados) noutro, e uma taça com legumes.
Uma opção de carne que variou entre cubos de vitela guisada no primeiro dia (aborrachados de tal forma que era preciso cortar em pedaços pequenos para conseguir engolir), pernas de frango, bifes de vaca (também difíceis de mastigar), tiras de perú, voltámos ao frango (desta vez foram as coxas) e houve um dia de lombo de porco. Não cheguei aos peitos do frango...
Isto era um bolo de ananás...
Já o peixe (aquela travessa atrás das coxas de frango, na foto acima), numa ilha onde o mar é rei, era sempre congelado e com qualidade duvidosa, envolto em molho. Na parte dos frios, havia sempre salada (alface, tomate) e depois uma série de componentes de conserva, azeitonas, milho. Nada de mal nas conservas, mas há conservas de melhor qualidade para um hotel de 4 estrelas e, ainda por cima, de uma cadeia onde o nome inspirava confiança (Pestana).
As sobremesas, outra desilusão e até cabelos foi possível encontrar numa delas. Ver foto abaixo. É claro, esta é uma situação que pode suceder em qualquer lado e até nos melhores hotéis. Mas este era tão visível, e os funcionários passaram por lá tantas vezes que não ver aquilo era quase impossível.
De realçar que os cabelos estão mesmo a sair de dentro do bolo e não foi um "acidente provocado por contaminação de um dos hóspedes. Repito, isto pode suceder em qualquer lado, mas as estrelas também servem para dar garantias de maior controlo de qualidade.
Hotel sossegado
Tirando a parte das refeições, onde até o buffet de pequeno almoço deixava algo a desejar para o preço, nome e estrelas que ostenta, o hotel é bastante sossegado, longe da confusão verificada nos hotéis com tudo incluído. Com opções de quarto ou villas equipadas com cozinha mas sem serviço de limpeza deste espaço da villa. Fazer as camas é aquilo que vulgarmente chamamos "puxar as orelhas" aos lençois. Havia máquina de lavar loiça, mas não fornecem detergente, nem material para lavagem da loiça. Acabámos por lavar pratos com gel de banho, e usar uma toalha como pano, fazendo lembrar os acampamentos de escuteiros em hotéis de mil estrelas.
O serviço
Nem tudo era mau. O serviço prestado corresponde às quatro estrelas. Pessoal simpático, atencioso e preços de bebidas de cinco estrelas. Nem água forneciam a não ser engarrafada (paga a preço de cinco estrelas). E, havia lá uma máquina que dispensava água só que apenas estava ligada ao pequeno almoço.
O café expresso ao pequeno almoço era gratuito (um por pessoa) mas ao jantar, quem queria, tinha de pagar. Um pequeno pormenor que poderia facilmente ser eliminado sem grandes custos para o hotel. O número de hóspedes é baixo (o hotel não tem muita capacidade) e ainda mais baixo o número dos que bebem café ao jantar. Em conversa com outros hóspedes a oferta do expresso poderia ajudar a amenizar outros pormenores menos positivos.
Para terem uma ideia, um jarro de sangria custa mais de 16 euros e, numa semana, pagámos mais de 99 euros apenas nas bebidas das refeições e em duas tostas no almoço do dia da partida. E não bebemos em exagero. Uma imperial e uma garrafa de água por jantar e, no total dos sete dias, duas garrafas de vinho que, em qualquer supermercado não custam mais de 5 euros a garrafa. Mas já sabemos que os preços nestes produtos são sempre inflacionados. Uma garrafa a 19.33 euros e outra 16.86 euros. IVA a 12%.
Quanto às tostas, por oito euros, poderiam oferecer mais qualidade. Uma tosta em fatia de pão embalado não merece oito euros. Principalmente quando poderiam estar a usar o famoso bolo do caco. Algo que nunca foi visto neste hotel durante os sete dias da estadia.
Além disso, na descrição do site do próprio hotel pode ler-se: "Para as suas refeições visite o restaurante Terriu´s com gastronomia mediterrânica. A receção está disponível 24h para o ajudar com qualquer questão". Na parte relativa à receção, como já referi, a simpatia de todos é louvável. Mas, ao ler esta frase poderá pensar que tem um restaurante onde, eventualmente, pode recorrer para almoçar. Neste período de almoço não pode. Apenas tem a opção de tostas, bebidas e pouco mais. Um serviço de bar mínimo com preços desajustados. Se pretender almoçar (principalmente se está com crianças) tem duas opções: ou recorre a um dos restaurantes existentes na ilha ou se estiver nas villas tem de abastecer o frigorífico e preparar as suas próprias refeições.
Mas tudo isto passaria despercebido se a qualidade das refeições da meia pensão acompanhassem o custo cobrado pela estadia. O que não sucedeu.
Se ainda está de partida para este destino, e escolheu este hotel pelo nome Pestana, talvez ainda vá a tempo de ponderar uma mudança ou, pelo menos, saiba que o mais provável é ir comer massa durante uma semana.
A ilha
No que respeita à ilha, só podemos dizer que a praia é tudo o que dizem e muito mais. Areia dourada, água quente (mesmo que nesta semana o vento estivesse fresco) e boas opções de restaurantes com uma qualidade bastante boa onde servem peixe do dia grelhado no ponto, lapas e outras iguarias. E o bolo do caco é apresentado sempre para acompanhar os petiscos. O preço é idêntico ao praticado na restauração do Continente.
Para chegar à praia a partir do Pestana Ilha Dourada é preciso caminhar um pouco, mas é perfeitamente aceitável e pelo percurso pode ver cavalos, coelhos e apreciar um pouco da paisagem. A caminhada dura cerca de cinco minutos e o único problema será o calor do sol a incidir. Mas é também mais um incentivo para ir direto ao mergulho nas águas quentes de Porto Santo.
Como aspetos mais positivos, a par dos que foram mencionados acima, é de reforçar o ambiente calmo proporcionado pelo hotel Pestana Ilha Dourada, longe da azáfama das multidões dos hotéis do lado com centenas de hóspedes e o corropio típico de um hotel tudo incluído.
Por isso, viajar para o Porto Santo, sim, mas é preciso ir consciente destes "pormenores", em especial no que diz respeito à meia pensão disponível no Pestana Ilha Dourada.